Mais de 200 cientistas e outros especialistas demandam que os governos passem desde já a incluir o bem-estar animal na governança para o desenvolvimento sustentável, rumo a um mundo mais resiliente e saudável para todos.

Uma carta aberta, publicada na nova revista CABI One Health antes da Conferência das Nações Unidas Estocolmo+50, em Junho de 2022, apela aos governos para “reconhecerem a importância do bem-estar animal para o desenvolvimento sustentável, buscarem prejudicar menos os animais, e a fazer-lhes o bem como parte da governança do desenvolvimento sustentável”.

A pesquisadora do SEI Cleo Verkuijl foi co-autor da carta. A carta segue o recente lançamento de um relatório com opções de políticas para integrar o bem-estar animal na governança para o desenvolvimento sustentável, liderado pela mesma equipe.

Os autores destacam que nos 50 anos desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972, o bem-estar animal continua sendo negligenciado na governança para o desenvolvimento sustentável. Um exemplo claro disso é que a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável inclui 169 metas, algumas das quais tratam da proteção de espécies animais, da biodiversidade e habitats. No entanto, a Agenda não aborda o bem-estar animal. De acordo com os autores, essa é uma omissão importante .

“Saúde humana, animal e ambiental estão interligadas,” explicou Jeff Sebo, professor associado de estudos ambientais, professor afiliado de bioética, ética médica, filosofia e direito, e diretor do programa de estudos animais da Universidade de Nova York, e um dos principais autores da publicação. “Os governos precisam tomar medidas para incluir os animais na governança do desenvolvimento sustentável, em prol de animais humanos e não humanos.”

Um exemplo-chave de como a forma como tratamos os animais afeta a nossa própria capacidade de promover o desenvolvimento sustentável é o fato de a pecuária ser um dos principais setores responsáveis pelas mudanças climáticas. Também se observa que, na maioria dos casos, a agricultura animal consome “muito mais terra e água” e produz “muito mais lixo e poluição” que as alternativas à base de vegetais.

A publicação enfatiza que a produção animal industrial também contribui para o surgimento de novas doenças infecciosas. Os atuais surtos de gripe aviária, que já levaram ao abate de milhões de aves em todo o mundo, ilustram muito bem esse risco.

“A pandemia da COVID-19 nos lembra que indústrias como a de produção animal industrial e o comércio de animais selvagens não só prejudicam e matam muitos animais por ano, como também contribuem com ameaças globais de saúde e meio ambiente que prejudicam a todos nós”, observa Verkuijl.

Os signatários apelam aos governos para que “apoiem políticas de informação, financeiras e regulatórias que reduzam nosso uso de animais e aumentem nosso apoio aos animais de maneiras que beneficie seres humanos e não-humanos”, e que reflitam a importância do bem-estar animal na Estocolmo+50 e em outros documentos da ONU resultantes do evento.

“Tanto para os países de alta renda quanto para os de baixa renda, há benefícios ambientais, de saúde pública e econômicos significativos com a melhoria do bem-estar animal”, ressaltou Maria José Hötzel, professora de Etologia Aplicada e Bem-Estar Animal da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. “Não podemos esperar mais 50 anos para levar essa questão a sério.”

Os signatários da carta incluem: Peter Singer, Ira W. DeCamp Professor of Bioethics, Princeton University; Martha C. Nussbaum, Ernst Freund Distinguished Service Professor of Law and Ethics, Law School and Philosophy Department, The University of Chicago; Ingrid Visseren-Hamakers, Professor, Environmental Governance and Politics, Radboud University; Linda Keeling, Professor, Animal Welfare, Swedish University of Agricultural Sciences; Roberto Schaeffer, Professor, Energy Economics, Federal University of Rio de Janeiro; Marc Bekoff, Professor Emeritus, Ecology and Evolutionary Biology, University of Colorado, Boulder; Will Kymlicka, Canada Research Chair in Political Philosophy, Queen’s University, Canada; Arthur Caplan, Mitty Professor of Bioethics, Grossman School of Medicine, New York University; Jérôme Segal, Associate Professor of History, Sorbonne University; e Laura Scherer, Assistant Professor of Environmental Sciences, Leiden University.

A publicação completa está disponível aqui .

Os autores seguem recebendo assinaturas adicionais de pesquisadores e especialistas neste link .